AS VANTAGENS DE SER BILÍNGUE

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A ciência vem investigando os efeitos do aprendizado de duas ou mais línguas no cérebro humano há décadas. O chamado bilinguismo é comumente associado a vantagens no aprendizado, facilidade com línguas e alta capacidade lógico-linguística. Estudos recentes, no entanto, descobriram que o aprendizado de outra língua pode trazer benefícios que perduram na vida dos estudantes.

Uma pesquisa da Northwestern University, nos Estados Unidos, liderada pela Dra. Viorica Marian, psicóloga e cientista cognitiva, analisou os processos mentais de estudantes bilíngues. A pesquisa identificou que, quando um bilíngue ouve, lê ou fala uma palavra, seu cérebro imediatamente elenca várias palavras relacionadas, não importando o idioma. A partir dessa observação, o Grupo de Pesquisa em Psicolinguística e Bilinguismo (em tradução livre) concluiu que o cérebro bilíngue tem a capacidade de focar em informações sobre uma língua enquanto reduz a interferência das línguas que conhece.

A descoberta pode ajudar a responder por que bilingues apresentam certas vantagens já identificadas pela ciência, como a alta capacidade de processamento sensorial e cognitivo apresentada por esses estudantes ao longo dos anos. A atenção aprimorada a elementos linguísticos, como identificada pela pesquisa, pode ser a razão da facilidade com que bilíngues aprendem uma terceira língua se comparados com adultos monolíngues ao aprenderem uma segunda.

Outra descoberta importante refere-se à influência da segunda língua em crianças e idosos, pela primeira vez sugerindo que o aprendizado da segunda língua estende vantagens para além do campo linguístico.

Na infância, crianças educadas em um ambiente bilíngue são mais atentas e gerenciam conflitos com mais facilidade do que outras crianças da mesma idade. A grande surpresa da pesquisa fica por conta do registro de vantagens cognitivas a partir dos oito meses de idade. Estudos seguintes comprovaram que os mesmos benefícios estendem-se a quem aprendeu uma segunda língua ao longo da vida.

Na terceira idade, o bilinguismo parece providenciar um meio de retardar o declínio natural das funções cognitivas. Além de manter o mecanismo cognitivo afiado, o bilinguismo parece ajudar a recrutar redes neurais alternativas para compensar aquelas danificadas pelo envelhecimento. Idosos bilíngues têm uma memória e controle de tarefas relativamente melhor do que idosos que só falam uma língua.

Em um estudo com mais de 200 pacientes com Alzheimer, a Dra. Viorica Marian, acompanhada do Dr. Scott Schroeder, identificou que pacientes bilíngues só começavam a sentir sintomas da doença, em média, após os 79 anos, enquanto outros pacientes sentiam os primeiros sintomas de Alzheimer a partir dos 70 anos.

Após quase uma década de publicações científicas, está claro que os benefícios neurológicos e cognitivos do bilinguismo estendem-se da primeira infância à velhice conforme o cérebro processa informações com mais eficiência e atrasa o declínio cognitivo. A cada nova descoberta, a ciência deixa claro que o bilinguismo não está apenas associado ao aprimoramento do reconhecimento de sistemas lingüísticos: o aprendizado de uma segunda língua é um investimento que traz benefícios à qualidade de vida e se estende por muitas décadas.