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Falar bem inglês não significa apenas falar bem inglês. À primeira vista essa parece uma afirmação estranha, pois o que mais poderia ser? A crença popular é a de que falar bem inglês significa ter uma boa pronúncia, um bom vocabulário e um domínio acima do razoável de regras gramaticais. E, embora não esteja de todo errada, essa ideia deixa de fora todo o universo que vem junto com a língua – e que não podemos ignorar.

Pense num estrangeiro que vem ao Brasil e, mesmo que fale nossa língua perfeitamente, não entende o que é “tomar uma ceva”, que ele aprendeu como “beber cervejas”. Mais do que isso: pense que você está visitando outra cidade dentro de seu próprio país e está perdido com o que as pessoas falam! Os curitibanos colocam vina no cachorro-quente no lugar de salsicha, os gaúchos não fazem passeio, dão banda, e os cearenses não insistem, botam boneco. Com toda a diversidade cultural que testemunhamos aqui mesmo, por que seria diferente com o inglês, primeira língua de mais de 300 milhões de pessoas no mundo todo?

A resposta: não é. Para aproveitar tudo que essa língua tem a oferecer, é necessário conhecê-la mais a fundo e chegar perto, de uma maneira ou de outra, daqueles que a falam todos os dias. Fazemos isso, de certa forma, consumindo seriados, filmes,  programas de televisão, música, livros. Mas, com frequência, quem tem maior experiência no inglês percebe que o sabor dessa cultura não é de todo apreciado, justamente porque grande parte do público brasileiro – provavelmente no mundo todo também – não entende os trocadilhos, as referências culturais, as gírias e expressões.

Alguns exemplos: o Netflix recentemente lançou a série Master of None, do comediante norte-americano Aziz Ansari. Mesmo para um bom conhecedor da gramática e do vocabulário da língua, o título parece misterioso – “mestre de nada”? Na realidade “master of none” é um pedaço do ditado popular “Jack of all trades, master of none”, que é algo parecido com o nosso brasileiríssimo “pau para toda ohouse_of_cards_divulgacaobra”, mas com uma conotação negativa. Fala de alguém que sabe um pouco de tudo, mas não sabe muito de nada.

Outro caso é a série House of Cards, outro título interessante que traz um significado  extra: a tradução, é claro, é “casa de cartas”, mas ganha um sabor especial quando lembramos que House é como os estadunidenses se referem à Câmara dos Deputados, que é chefiada pelo personagem principal, Frank Underwood.

Podemos ver sitpulpuações parecidas quando filmes americanos vêm com nomes traduzidos que nada têm a ver com     o original também. Pulp Fiction, do diretor Quentin Tarantino, precisaria de uma imensa nota de rodapé para     situar, de modo que adicionaram Tempo de Violência como subtítulo. Isso faz referência às pulp magazines, que   eram livretos que traziam contos de qualidade literária questionável, combinando com o papel barato que os         envolvia. Convencionou-se chamar de pulp fictions histórias apelativas, com muito sexo e violência – daí o subtítulo conferido ao longa-metragem, que busca explicar a referência que um americano, ao ler o nome do filme, sacou de cara.

 

É compreensível que pensar nisso traga frustração: dá trabalho aprender. Os alunos da língua inglesa já se preocupam o suficiente com regras gramaticais e de pronúncia, e agora propomos que também pensem em ditados populares, fatos históricos e gírias?

Mas essa é a delícia de mergulhar de cabeça na cultura disponível em língua inglesa: já o fazemos porque amamos as séries, os filmes e as músicas, e tudo isso fica melhor ainda quando entendemos em todos os níveis.

Texto da teacher Julia Garcia.

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